05 novembro 2010

Amor conforme o seu Autor

             Muita gente começa seus blogs pra falar do amor, de paixonites adolescentes, de frustrações com namorados/as... Não quero ser um desses melosos ou  odiosos. Crieo que o amor é tanto volitivo quanto emocional. E mais do que isso, é um presente impressionante de Deus que também é amor.
            Durante meu início de namoro, eu e minha namorada, Lilian, começamos uma devocional em I Co 13, o famoso capítulo do amor. Dividi o capítulo em 16 características do amor ágape, o amor sacrificial e incondicional. Todo dia líamos e escrevíamos uma carta um para o outro. Assim, ao fim daquele dia, leríamos e discutiríamos como aplicar aquela característica do amor. Falávamos pelo menos 1 hora e meia sempre.
            Crescemos muito com esse tempo, foi um fortalecimento gigante na semente que era o nosso amor. Sei que ainda estamos com uma mudinha, ainda há muito o que crescer e aprender. Mas a experiência foi tão proveitosa que já nos programamos fazê-lo novamente quando formos completar um ano de namoro, na virada 2010/2011. Resolvi por isso postar, pra quem quiser uma ideia pra começo de namoro, ou apenas para ver que amar é muito mais complexo do que imaginamos, contudo, maravilhoso quando o experimentamos como seu Autor planejou.


1º DIA
“Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me valerá.” - I Co 13.1

            A Primeira Epístola de Coríntios é uma carta de exortação muito dura! Basta ler os capítulos 2 a 12 para perceber que Paulo queria corrigir diversos problemas na Igreja: pureza sexual, unidade, dependência de Cristo e do Espírito Santo para agir, relacionamentos dos irmãos, liberdade cristã, dons espirituais... Enfim, coisas que vejo até hoje na Igreja.
            O link que Paulo usa para I Co 13.1 é a segunda parte de 12.31: “Passo agora a mostrar-lhes um caminho ainda mais excelente.” Ele se refere a diversas manifestações do Espírito, que estavam sendo usados de maneira errada na igreja. A expressão para “ainda mais excelente” (kaquperbolhn) literalmente traduzida quer dizer segundo o excesso. Indica “um caminho que excede toda e qualquer comparação”. O capítulo é naturalmente dividido em três partes: A SUPERIORIDADE DO AMOR (vs.1-3), a QUALIDADE DO AMOR (vs. 4-7) e a ETERNIDADE DO AMOR (vs. 8-13). Paulo achava realmente importante ensinar sobre o amor.
Paulo não passava um novo dom... Ele apontou o caminho que qualquer dom deveria trilhar. O genuíno amor seria o único meio de dons serem usados para glória de Deus e edificação dos cristãos. Veja que os dons do cap. 12 aparecem nesses versículos (línguas, profecia, discernimento, palavra de conhecimento ou ensino, fé, contribuição e misericórdia). Nenhum deles seria proveitoso sem amor.
Além disso, Paulo demonstrou que o amor seria a chave para a perfeição da Igreja em todos os problemas da Igreja citados de I Co 2 a 12. Sem amor ao Senhor e ao próximo, a habilidade ou dom mais impressionante se tornam ocos. E nojentos para Deus. Mesmo ações honrosas ou que exigem sacrifícios para qualquer outra pessoa, sem o foco primeiramente em Deus, não tem valor algum, e demonstram uma ponta de egoísmo e exibicionismo, ou pior ainda, idolatria.
Outro ponto que pode ser prejudicial da carência do amor é a realização simplesmente por obrigação. Paulo ordenou o uso dos dons. O cumprimento desse dever seria apenas atitudes vazias de conteúdo. Cobertura de chantilly sem bolo. Deus quer que nossos deveres sejam impulsionados pelo compromisso sincero e prazeroso com Ele.
Honey, ainda que façamos grandes realizações com nossos talentos e dons na obra de Deus, se não houver primeiro amor a Deus, serão passageiros e vazios. Mesmo que eu entregasse meu corpo para morrer por você ou qualquer outro ato de amor gigante, se eu não amar mais a Deus do que a você, nada valerá. Em análise final, a quem cederíamos nossa vontade? Um ao outro ou a Deus? Também posso dizer que se cumprirmos nossos papéis, compromissos e deveres no namoro, sem amor um pelo outro, nosso namoro será um belo frasco de cristal, mas sem nenhum perfume para colocar dentro. Não valerá de nada.
O amor genuíno é reflexo do amor supremo e perfeito de Deus. Apenas o Espírito de Deus pode produzi-lo em mim e em você. Só podemos oferecer amor genuíno um ao outro se buscarmos na Fonte correta. E essa fonte não é meu coração. É o Senhor. Lembre de orar pedindo que você reflita o amor incondicional de Deus nos próximos dias. Também estarei orando.

Bons textos pra comparar: Mt 10.37 (Inclua “namorado/a” na lista); I Jo 4.10-12; Is 48, Fp 1.9-11
           
TEI do dia: “É provavelmente impossível amar qualquer ser humano simplesmente ‘demasiado’. Podemos amá-lo demais em proporção ao nosso amor a Deus; mas é a insignificância de nosso amor por Deus e não a grandeza de nosso amor pelo homem que constitui o excesso” – C.S Lewis

13 outubro 2010

Cartas de um Diabo a seu aprendiz

“Há dois erros semelhantes mas opostos que os seres humanos podem cometer quanto aos demônios. Um é não acreditar em sua existência. O outro é acreditar que eles existem e sentir um interesse excessivo e pouco saudável por eles.” Assim, C. S. Lewis inicia sua obra "Cartas de um Diabo ao seu Aprendiz". E, para minha profunda tristeza, vejo a primeira opção como reinante na mentalidade evangélica atual.
O livro se trata de uma peça que cutuca a cristandade para a realidade de um mundo espiritual ativo e fortemente nocivo. Seu argumento e linha de composição básica é a estratégia lúcida e bem formulada do diabo, com o auxílio dos seus anjos, a fim de atrapalhar os seres humanos rumo ao relacionamento com o Criador. É interessante perceber que não importa o quanto o “paciente” em questão consiga novas maneiras de se aproximar de Deus, os demônios sempre tem novos métodos de atolá-lo em seu próprio pecado, muitas vezes de maneira sutil. Aliás, sutileza é claramente vista como uma forte arma contra os cristãos mais racionalistas e conservadores. Não posso falar muito, sou um deles...
Há muito que Lewis não cita no quesito pecado. Não é uma idéia de se compor uma lista exaustiva, mas de expor os princípios da fraqueza humana e até de certa ingenuidade. Peguei-me muitos momentos enxergando-me na pele do rapaz-alvo dos anjos caídos. Nós, seres humanos, somos bem tolos, e o autor fez questão de frisá-lo durante cada capítulo, em especial, no seu foco de impactar o cristianismo morto do século XX na Europa. Embora a dedicatória mostre que o livro foi direcionado à Tolkien, é como um codinome do público, o apelido da mentalidade européia já cansada da religião cristã.
O Brasil caminha com longas passadas para o mesmo rumo da Europa. Contudo, acompanhando o racionalismo filosófico que envenenou o continente de C. S. Lewis, temos o ingrediente do sincretismo. Quando poderíamos ignorar a natureza humana e dos demônios, temos idéias totalmente errôneas sobre eles. E, por não conseguir distinguir nossa própria cosmovisão, a Igreja evangélica tem conceitos de Deus, Cristo, o mundo e salvação dignos de um picadeiro de circo!
Lewis escreveu para sua época. Mas como os líderes da Igreja brasileira hoje deveriam enfrentar suas barreiras? Um ensino sistemático da doutrina e de apologética seria muito interessante. E ainda nisso, é impressionante notar a falta de ênfase em pregações, músicas, literatura sobre consagração pessoal e a luta pela obediência. Fomos cercados pelo experiencialismo, a contemplação mística a Deus, e pelos passos práticos para a felicidade. Volto a tocar no assunto da sutileza do diabo. Ele está mais interessado em um cristianismo medíocre, conformista e raso do que existir depravação e assassinatos nele. Quer mais pastores hipócritas, ocupados demais com questões secundárias do ministério do que adúlteros e ladrões (embora estes também continuem a existir).
E essa realidade continuará sendo ignorada por boa parte dos evangélicos se não houver reeducação. Creio que neste exato momento, episódios como o de Vermebile e seu tio, Fitafuso, ocorrem no mundo espiritual, mas com pacientes brasileiros. Muitos deles, em nossas igrejas. A alguns deles somos nós. Espero apenas ter um fim glorioso para Deus e humilhante para o Inimigo como o cristão da obra de C. S. Lewis, e levar muitos outros a desejar o mesmo.

27 setembro 2010

É só um Poeta

Já faz um tempo que minha "inspiração" pra música e poesia deu uma estacionada. Se você compõe sabe do que estou falando. Passar dias sem criar nada é uma frustração!
E não vejo isso apenas pra música/poesia. Se você trabalha com qualquer área em que precisa inventar, criar, inovar e não consegue mais tirar suco da sua mente, começarão a aparecer consequências. Primeiro: O bicho pega pro seu lado. Todos tem uma expectativa de você, ou às vezes é até pago pelas suas ideias. Segundo: você se pega inconformado. "Pra onde foi a minha criatividade???" É como se aquilo para o que você sente ter nascido, de repente fugisse pro deserto, ou está escondido mesmo atrás da cômoda da casa. As ideias desaparecem como canetas BIC. Pois é, pra quem nunca notou, as BICs surgem e somem, ninguém sabe de onde elas vem ou pra onde vão.
Bem, nessas minhas desatividades musicais, conversei com Deus. Sei que Ele, como Criador, deu ao ser humano a criatividade junto com a sua imagem em nós. Mas só conseguimos criar à partir do que já é criado. Deus, pelo contrário criou o mundo do nada. Quando nos transforma pela sua graça na conversão, Ele dá vida a um coração onde só havia a não-vida (Ef 2.1-7). Será que há algo em minha conexão com o supremo Poeta que está sem sintonia ou sujo? Aquele que me “inspirava” e me impressionava tem ainda me deixado de boca aberta? A vida cotidiana, o romance, a natureza, todos vindos dEle perderam o sabor?
Ainda nesses dias, conversei com minha namorada que soltou uma sentença genial. “Ok, você pode não estar conseguindo compor, mas um poeta é sempre poeta. Ele não tem como fugir disso.” Genial! Mas eu ainda me questiono que tipo de poeta eu sou. O que me falta para escrever? A caneta parece até engasgada. Mas das orações a Deus e de um papo ao telefone, me voltou o sorriso no rosto. Compus novamente sobre não conseguir compor.

            Inda ontem me disseram
Que o poeta é sempre poeta
E sem querer, sem perceber
Já se fez poeta

‘Inda que mal-compreendido
O poeta encontra sentido
Em compor sobre o amor
Ou a dor de ser poeta
Sem questionar se é a coisa correta
Só se deixa ser poeta

‘Inda sente certos dias
Não escrever por sua autoria
Quem o encontrou, co’ele trombou
Foi sua própria poesia

‘Inda sobre esse poeta
De onde as idéias surgem e somem?
Numa fração de inspiração
Coração de um homem
Que ainda se sente criança inquieta
Mas no fundo é só poeta

Toma minha mão e me faze escrever
Algo que faça Você sorrir pra mim
E eu amar mais Você

15 setembro 2010

Crises e Krisis

Os últimos dias aqui no Seminário tem sido de constante crise. Decisões futuras, emoções intensas, dúvidas, estudos longos... E como já tenho um pouco do pecaminoso costume de supervalorizar as coisas (talvez vestígio do lado pessimista do poeta), perco o rumo várias vezes em uma semana.
Particularmente, entendo que crises são sempre momentos decisivos para a formação do caráter. Medicinalmente falando, "ponto de crise" é o ponto crítico do estado de um paciente, em que, à partir de então, ou haverá uma recuperação progressiva, ou perdas irreversíveis, possivelmente a morte. Tratam-se no geral de problemas do corpo. Contudo, nosso entendimento e coração são levados a pontos de crise com todas as nossas decisões, menores ou maiores. E a conseqüência em nosso humor é proporcional ao valor que damos à decisão e suas conseqüências.
E essas decisões é que vejo sendo constantes comigo. Sério mesmo, descobri meu lado melancólico apenas em 2010. Antes, eu me achava o cara mais normal e equilibrado do mundo. Mas não sou. O pecado do orgulho ferido, da super-exigência tem saído de mim. Parafraseando Lutero, o “velho malandro dentro de mim” ainda quer me controlar.
No entanto, vejo isso com bons olhos. São parte do preparo de Deus sobre mim. Hoje estive lendo o livro “Etapas na vida de um líder” de Robert Clinton. Frustrações, em especial no princípio de vida ministerial não deveriam existir. As atividades e a produtividade ainda não podem ser colocadas como medidas. Hoje, Deus quer agir mais em mim do que através de mim. Pelo menos agora. É o processo através do qual ele me qualificará a ter um discernimento correto.
Originalmente falando, a palavra Crise vem do grego krisis. Significa um ato de julgamento, divisão entre partes feitas por uma autoridade. Geralmente, na Bíblia, vemos krisis associado com o Juízo Final, onde Deus separará Trigo e Joio.
Em escala menor, Deus já começou um processo de juízo na vida dos seus adoradores. Ele está separando o “velho malandro” do novo coração. Independente do que sinto agora, prefiro arriscar em confiar em quem tem mais juízo do que eu. Contudo, é uma cirurgia como qualquer outra, que deixa dores e cicatrizes. Não tenho a menor dúvida de que o processo continuará trazendo dolorosas crises. Mas com certeza tira o câncer que pode me levar à loucura.

07 setembro 2010

Fusão Fé + Vida

Cada vez que me encontro com jovens e adolescentes, vejo uma postura claríssima. Nossa geração pós-moderna foi corrompida pela estagnação. Não sabemos mais o que queremos, nem com o que devemos assumir responsabilidade. Se você trabalha em algum ministério da sua igreja (e se não trabalha já é um sinal de comodismo!), tente convidar algum dos jovens para auxiliar em uma programação, apenas um dia, que seja. A resposta básica e muito provável é uma: Não. A justificativa? Não é uma, mas milhares. A família, os estudos, a distância, o dinheiro...
Enfim, a mais cotada, e raiz de todos é a falta de tempo. Eu mesmo vivo reclamando da falta de tempo, e excesso de responsabilidades. Mas tenho percebido se tratar de uma perspectiva errada. Recentemente assumi uma postura. Não digo mais "Não tenho tempo." Substituí por dizer "Cara, não é minha prioridade agora. Não posso."
Uma frase esses dias me fez pensar nisso. É mais ou menos assim: "Quem quer arruma um jeito, quem não quer arruma uma desculpa". O princípio é o mesmo. Não decidir muitas vezes é não querer, ou medo de errar. E aqueles que são cristãos mais "fervorosos", sempre dizem que vão orar a respeito. Mas por que oramos tanto para decisões dessas, se não oramos quando nos perguntam quantos pães queremos comprar na padaria? Ou qual filme vou alugar hoje? Ou quanto de crédito vou colocar no celular amanhã? Parece que estão esperando Deus decidir por nós mesmos. Por que não assumir que não sabemos o que desejamos?
Precisamos orar, não por decisões, mas para vermos uma juventude que sabe assumir riscos, menos cômoda, mais corajosa e responsável. Que corra atrás de seus interesses e sonhos, sabendo que a maior resposta de Deus será o fechamento das portas, não nos empurrar pra dentro das abertas.